domingo, 29 de janeiro de 2017

E se Nelson Piquet não tivesse se acidentado na Indy 500

Obs: Todas as fotos foram extraídas do site www.indy500.com


Bom, gente... mais uma vez eu aqui falando de histórias de automobilismo e hoje contarei para vocês sobre as 500 milhas de Indianápolis. Mas não uma edição qualquer... desta vez vou falar de um dos capítulos da edição de 1992, que pra mim, em termos de cobertura jornalística e de corrida, talvez tenha sido uma das melhores edições desta prova, marcada sobretudo por muitos acidentes e por um final de corrida épico... e curiosamente, estamos completando o Jubileu de Prata (25 anos) desta edição...


Nelson Piquet foi o grande nome em termos de marketing para a Indy 500 de 1992

Um dos capítulos a parte das 500 milhas de Indianápolis de 1992 foi a surpreendente aparição de Nelson Piquet para esta corrida. O piloto brasileiro estava na época, sem uma perspectiva de futuro na Fórmula 1, e a boataria comia solta sobre possibilidades dele correr em algumas equipes depois que foi dispensado pela Benetton... tudo era fumaça naquele tempo que as informações eram baseadas em revistas Quatro Rodas e alguns jornais de circulação do país. Foi aí que então, em Março ou Abril, foi anunciado com pompas o nome de Nelson Piquet para participar desta prova, através de um convite da equipe Menard da Fórmula Indy.

O mundo das pistas recebeu essa notícia na época como uma bomba. Afinal, um tri-campeão da Fórmula 1, resolver se aventurar nesta prova, não era uma coisa muito comum na Indy 500, mesmo a categoria tendo abrigado outros ex-campeões como Emerson Fittipaldi e Mario Andretti, por exemplo. Na verdade, a contratação de Nelson Piquet para correr as 500 milhas foi meio que um acaso, pois um dos pilotos da Menard, o norte-americano Kevin Cogan, foi vetado pelos médicos devido a problemas numa cirurgia feita devido a um acidente que ele sofreu na edição do ano anterior, e então precisava-se de um substituto. Foi aí que, vendo que Piquet estava parado na Fórmula 1, ventilaram o nome dele na equipe e no final, o piloto brasileiro acabou aceitando correr esta prova. Nelson Piquet na Indy 500 virou o grande chamativo para a corrida e uma forma da equipe Menard de fazer o seu marketing para o mundo todo.


Nelson Piquet em ação nos treinos da edição de 1992...
 
Convite aceito, o piloto tratou logo de se familiarizar com um Fórmula Indy e fazendo seus testes de adaptação para a corrida. A participação na Indy 500 também foi uma forma que ele achou de continuar sendo lembrado enquanto não pintava algo de concreto na Fórmula 1. Na Indy, ele foi logo apresentado à equipe Menard. Era um Lola Buick de número 27 que foi disponibilizado para ele aproveitar bem esses momentos. E Piquet estava indo muito bem nos testes, cravando sempre tempos entre os dez primeiros em cada sessão de treino livre, até que veio numa quinta-feira, dois dias antes do Pole Day, o dia em que ele perdeu o controle de seu carro na curva 4 e acabou acertando o muro de frente, fraturando suas duas pernas e deixando a edição daquele ano. Com isso também acabaram-se todas as esperanças de um dia querer voltar a disputar a Fórmula 1 mais pra frente.

O que se viu depois daquele acidente foi ele operando as pernas para não ter complicações maiores e logo depois a fisioterapia, onde ele passou quase que o ano inteiro se tratando e reaprendendo a andar, e voltar a Indy 500 no ano seguinte, para depois conseguir largar e abandonar a prova no primeiro quarto de prova. Infelizmente Nelson Piquet não deu sorte na Indy 500 e depois de 1993, ele resolveu de uma vez por todas que monopostos para ele era passado.

Hoje eu comento essa passagem de Piquet na Indy e muitos não se conformam pelo fato dele ter sofrido um acidente e até alguns mais exaltados, falam que Piquet era muito mais piloto do que quase todo o grid das 500 milhas na ocasião... aí comecei a pensar: puxa vida... se não fosse esse acidente... o que teria sido... será que ele teria se dado bem???? Só para a título de constatação: a Menard, logo depois deste acidente, convidou o veterano multi-campeão Al Unser, que na época tinha 52 anos, e com o carro que Nelson Piquet iria correr, Al Unser terminou a corrida em terceiro lugar, graças à sua experiência neste tipo de prova... mas será que Nelson Piquet teria conseguido resultado igual ou parecido com o que conseguiu o Al Unser????

Eu acredito que não... vou explicar o porquê... o carro de Nelson Piquet era um Lola Buick... o motor Buick era um dos piores motores da Fórmula Indy (período pré-cisão) quando era controlada pela CART, pois os motores Buick eram mais pesados se comparados aos Chevrolet e Ford Cosworth, que competiam na ocasião. Ocorre que, as 500 milhas de Indianápolis não eram controladas pela CART, e sim pela USAC, um órgão rival da CART, e que a USAC fazia interpretações diferentes no regulamento da CART e criava as suas próprias regras onde as equipes da Indy tinham que se adaptar às regras da USAC.

E aí é que entrava o caso dos motores Buick... graças ao regulamento da USAC, a entidade permitia que, para igualar as forças, as equipes que corriam com motores Buick, abrissem mais a válvula do Turbo de seus motores para que ficassem parelhos com os Cosworth e os Chevrolet... assim os carros de motor Buick acabavam sendo muitas vezes até mais rápidos em termos de classificação, mas para situações de corrida, eles sofriam com a confiabilidade e muitos deles, embora demonstrassem ser rápidos, acabavam quebrando no meio do caminho e deixando seus pilotos a pé.

Ocorre também dizer, porém, que as 500 milhas de Indianápolis de 1992 foi uma das edições mais surreais e acidentadas da história da corrida, onde praticamente metade esta prova foi disputada sob bandeira amarela, onde os pilotos tinham que ficar em fila indiana e esperarem a bandeira verde ser acionada para que eles acelerassem e disputassem as posições. Al Unser soube dosar bem o uso do seu motor Buick nesta prova bastante acidentada, e com isso, acabou conseguindo esse terceiro lugar com o carro que era para ter sido de Nelson Piquet. Talvez o piloto brasileiro não teria conseguido usar essa dosagem se tivesse ele ao volante...


Esta foto é da edição de 1993, um ano depois de seu acidente...

Mas... e o Nelson Piquet??? E se ele tivesse corrido a edição de 1992???? Talvez eu acho o seguinte: Ele poderia até se classificar bem nesta prova, talvez pegando uma segunda ou terceira fila (na Indy 500, são 33 pilotos divididos em onze filas com três carros por fila)... mas na corrida teria sido diferente, talvez... Piquet, com certeza, sofreria com os problemas de confiabilidade do motor Buick de seu carro 27 e talvez nem teria terminado naquela prova tão acidentada... mas que a participação de um tri-campeão nesta prova seria um atrativo a mais para a corrida, com certeza, seria... e ele, tendo corrido aquela edição de 1992, será que teria vontade ainda de voltar para a Fórmula 1???? Não sei... vai que ele se apaixonasse pela Fórmula Indy... bom... ele disputaria ainda a Indy 500 de 1993, mas sua presença seria ofuscada pela participação do Nigel Mansell na equipe Newmann Haas. O piloto inglês tinha acabado de ser campeão da Fórmula 1 de 1992 com aquela "Williams de outro planeta" (como Ayrton Senna chegou a classificar aquele carro naquele ano)... realmente uma pena que Piquet não deu sorte com as 500 milhas de Indianápolis naquela época...

E vocês, pessoal???? Vocês acham que Nelson Piquet poderia ter se dado bem se tivesse uma sorte melhor nesta prova????

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