domingo, 22 de setembro de 2013

Rivais - Tão em comum mas muito distintos ao mesmo tempo...



Bom, gente. Semana passada, assisti ao filme Rush, vi a rivalidade entre dois pilotos. O que me chamou a atenção foi a discrepância de dois mundos de dois pilotos rivais que tinham em comum o gosto pelas corridas e a briga pelo título. E na Fórmula 1, mundo de hoje ou seja nas épocas mais antigas, a rivalidade, quando é posta em ação entre dois pilotos, percebo que esses pilotos envolvidos têm mundos diferentes como podemos ver em alguns casos abaixo:

Primeiro, vou falar de Jim Clark e Graham Hill, britânicos, um escocês e outro inglês. Clark era o piloto número 1 da equipe Lotus e muita gente falava que ele poderia quebrar todos os recordes se não tivesse morrido prematuramente. Graham Hill, da pequena BRM, era um piloto que sempre ficou na sombra de Clark, embora tenham disputado campeonatos. Ambos levaram 2 títulos cada. Mas as diferenças sempre se notavam. O escocês voador gostava de forçar mesmo o carro, sempre guiando no limite e por algumas vezes esse estilo o deixava a pé em algumas corridas nas voltas finais. Hill, ao contrário, gostava de poupar equipamento, preservando-o para atacar nas voltas finais. Clark derrotou Hill em 2 oportunidades e Hill levou 1. Quando Graham Hill foi contratado pela Lotus para fazer dupla com o escocês, imaginavam-se um duelo particular entre ambos na mesma equipe, que infelizmente a morte tratou de não deixar acontecer. Hill ganhou o título de 1968 que poderia ter sido de Clark se não tivesse morrido.


No novíssimo continente também teve uma rivalidade que acabou depois passando para os construtores. O australiano Jack Brabham e o neozelandês Bruce McLaren, depois de um tempo, viraram sinônimo de equipes vencedoras. Quando pilotos, Brabham levou a melhor, ganhando 3 campeonatos. McLaren nunca conseguiu o título de pilotos. O que chamou a atenção foi o caminho que as equipes destes dois pilotos tiveram depois que seus fundadores deixaram o barco. Brabham vendeu a equipe para Bernie Ecclestone, que investiu na mesma, mas priorizava o lucro e também tinha outras atividades além de ser dono de equipe.
 

Quando a equipe iniciou a decadência na metade dos anos 80, ele simplesmente viu que tinha mais o que fazer. A equipe foi passando de mão em mão até fechar as portas falida e endividada. Já a McLaren, se profissionalizou, claro, sem antes passar por dificuldades depois que Bruce morreu e outros foram tomando conta da equipe. A profissionalização veio na década de 1980 e hoje, ela ganhou muito mais títulos que a rival e está firme e forte na categoria, brigando por vitórias.

O caso de Emerson Fittipaldi e Jackie Stewart também foi de uma rivalidade interessante no começo dos anos 70. Um, era novato na Lotus. Outro, já veterano e com títulos na bagagem. Enquanto Emerson era primeiro piloto, mas lutava praticamente sozinho dentro da equipe, (condição esta que herdou depois da morte de Jochen Rindt), Stewart sempre teve um escudeiro de prontidão, o francês François Cevert, que era encarregado do jogo de equipe e de fazer Stewart vencer as corridas. Emerson nunca teve esse tipo de ajuda, seja porque a Lotus nunca fazia jogo de equipe ou porque os companheiros de equipe eram inferiores demais ao talento da equipe.


James Hunt e Niki Lauda, eram dois exemplos de discrepância entre eles, que eu vi no cinema. O primeiro, um playboy assumido, que gostava de festas, fumava, bebia e transava com várias mulheres. Lauda era mais disciplinado, preocupava-se com o acerto de carros e respirava automobilismo e conquistou apenas o coração da esposa. Enquanto que Hunt era querido pelo seu estilo irreverente de ser, o rival parece que não era bem visto dentro do Paddock entre seus colegas e gente que trabalhou com ele. Mesmo depois do acidente, mostrou-se um respeito mútuo entre ambos. Mostra-se no filme um Hunt mais preocupado com badalação e um Lauda visando seu futuro fora da categoria. James Hunt, morreu pobre, vítima de um ataque cardíaco, aos 45 anos de idade. Lauda hoje, depois de muitas experiências na vida profissional, hoje é Diretor Técnico da Mercedes.



Nigel Mansell e Nelson Piquet foi outra rivalidade marcante, principalmente para os brasileiros. Esta, nascida dentro da equipe Williams, chegou a destacar-se dentro e fora das pistas. Piquet era um piloto mais técnico e ótimo acertador de carros, tinha o contrato de primeiro piloto dentro da escuderia. Mansell, de técnica, não tinha quase nada diria muita gente, mas era um excelente Showman nas pistas e confiava demais nas informações dos engenheiros de equipe, também tendo, apesar de ser o segundo, a preferência da equipe. Nigel Mansell ganhou mais corridas que Nelson Piquet em toda a carreira de ambos (31 x 23), mas o brasileiro possui mais conquistas de títulos, totalizando 3 contra 1 do rival. Até fora das pistas, ambos de gênio e temperamento forte, se estranhavam. Piquet se gabava de colecionar as mais lindas mulheres e ter espalhado filhos a torto e direito, aproveitando-se para espezinhar o rival, que desde o início de carreira, sempre foi fiel à sua única esposa e constituiu família. Recentemente, os dois fizeram uma ação promocional de lançamento de um carro de uma montadora e ambos, pelo menos num ponto concordaram entre eles: não precisaram bater para conquistar títulos.



Não muito distante daí, chegamos à Ayrton Senna vs Alain Prost. Talvez a maior rivalidade de todos os tempos, diria quem viu ambos correrem. Como vimos, essa rivalidade surgiu quando ambos dividiram as atenções na McLaren. Colecionaram vitórias, títulos e brigaram também em bastidores. Senna colecionava poles positions e vitórias. Prost, não se preocupava em ser mais rápido em treinos, concentrando-se para as corridas. Tanto é que sempre na maioria das vezes colecionava melhores voltas das corridas. Além disto, a forma como ambos eram vistos pelo público eram diferentes. Senna muitas vezes era admirado pelo seu carisma pessoal e buscava sempre ser profissional dentro e fora das pistas. Prost não nutria muita simpatia do público. Enquanto um era mais arrojado, o outro, buscava mais a técnica. Quando Senna morreu, Prost prestou solidariedade à família dele e também não cansou de falar sobre os momentos que passaram na categoria, que ficaram na memória de muitos.



Indo mais pra frente, alguns dizem que Michael Schumacher ganhou todos os seus títulos e suas vitórias porque não tinha adversários e se beneficiava de contratos excelentes dentro das escuderias que passava, mas pelo menos, na minha opinião, dois pilotos bateram de frente contra ele: Damon Hill (de 1994 a 1996) e Mika Hakkinen (de 1998 a 2000). O primeiro não teve vergonha de assumir a responsabilidade dentro da Williams depois da morte de Senna. E Mika, depois de substituir o próprio Senna na McLaren, tratou de ganhar confiança em si dentro da escuderia. Ambos brigaram contra Schumacher com suas armas, mas cometiam muitos erros que comprometiam as suas imagens e passou-se a impressão de que os dois eram pilotos falíveis, com pouco cérebro, e que quando foram campeões, só o conseguiram porque seus carros eram melhores que os que Schumacher guiava, contrastando com a imagem do alemão, de buscar e sentir a perfeição. Mas, pra mim, ambos foram dores de cabeça terríveis para o alemão. Damon Hill foi campeão em 1996, aproveitando-se do fato de Schumacher estar se adaptando à Ferrari, mas poderia ter sido campeão em 1994 não fosse a manobra de Schumacher que o tirou da corrida. Mika Hakkinen, tinha como motivação, ganhar 3 títulos seguidos. Conseguiu só 2 (1998 e 1999), mas foi um rival à altura para o alemão na minha opinião. Damon Hill muitas vezes brigava com Michael Schumacher porque não aceitava a condição de ser ofuscado por ele. Já Hakkinen sempre pregou o respeito a seu adversário.



Hoje, as rivalidades mais recentes estão entre Fernando Alonso e Sebastian Vettel. Por um tempo, Kimi Raikonnen e Lewis Hamilton incomodaram o espanhol, mas foi Vettel quem se lançou contra ele principalmente nas últimas temporadas. Fernando Alonso tinha um mega pacote de patrocinadores espanhóis e também o apoio de um empresário de corridas, o Flávio Briatore, que dispensa apresentações. Já Sebastian Vettel não estaria na Fórmula 1 se não tivesse o apoio da Red Bull desde as categorias de base até o programa de Novos Talentos da fábrica de energéticos austríaca. Ambos estrearam bastante jovens na Fórmula 1, com 19 anos cada e também ganharam seu primeiro GP bastante novos. Mas Vettel é o mais jovem campeão e também dos dois o primeiro a se sagrar tricampeão. Alonso costuma atrair as polêmicas para si como o caso de espionagem da McLaren e o Cingapuragate de 2008, causando bastante antipatia por fãs rivais. Já Vettel sempre carregou a imagem de bom moço, mesmo quando precisou sacanear Mark Webber, sua imagem não mudou bastante. Vettel é querido por muita gente, coisa que Alonso não é. Mas ambos têm suas equipes para si e muita gente sonha com uma dupla entre ambos, seja na Ferrari, ou seja na Red Bull, mas ambos já vetaram o outro dentro das suas escuderias.



Por fim, é isto. Se as rivalidades de antes e de hoje eram saudáveis ou beiravam a inimizade, não importa muito. Mas a gente percebe como rivais tão distintos em muitos casos, acabam tento tanto ou nada ao mesmo tempo em comum. E é isso que os torcedores gostam de discutir e torcer, seja ele respeitado ou não. É isso que enriquece as histórias da categoria.