Bom, gente. Semana passada,
assisti ao filme Rush, vi a rivalidade entre dois pilotos. O que me chamou a
atenção foi a discrepância de dois mundos de dois pilotos rivais que tinham em
comum o gosto pelas corridas e a briga pelo título. E na Fórmula 1, mundo de
hoje ou seja nas épocas mais antigas, a rivalidade, quando é posta em ação
entre dois pilotos, percebo que esses pilotos envolvidos têm mundos diferentes
como podemos ver em alguns casos abaixo:
Primeiro, vou falar de Jim Clark
e Graham Hill, britânicos, um escocês e outro inglês. Clark era o piloto número
1 da equipe Lotus e muita gente falava que ele poderia quebrar todos os
recordes se não tivesse morrido prematuramente. Graham Hill, da pequena BRM,
era um piloto que sempre ficou na sombra de Clark, embora tenham disputado
campeonatos. Ambos levaram 2 títulos cada. Mas as diferenças sempre se notavam.
O escocês voador gostava de forçar mesmo o carro, sempre guiando no limite e
por algumas vezes esse estilo o deixava a pé em algumas corridas nas voltas
finais. Hill, ao contrário, gostava de poupar equipamento, preservando-o para
atacar nas voltas finais. Clark derrotou Hill em 2 oportunidades e Hill levou
1. Quando Graham Hill foi contratado pela Lotus para fazer dupla com o escocês,
imaginavam-se um duelo particular entre ambos na mesma equipe, que infelizmente
a morte tratou de não deixar acontecer. Hill ganhou o título de 1968 que poderia
ter sido de Clark se não tivesse morrido.
No novíssimo continente também
teve uma rivalidade que acabou depois passando para os construtores. O
australiano Jack Brabham e o neozelandês Bruce McLaren, depois de um tempo,
viraram sinônimo de equipes vencedoras. Quando pilotos, Brabham levou a melhor,
ganhando 3 campeonatos. McLaren nunca conseguiu o título de pilotos. O que
chamou a atenção foi o caminho que as equipes destes dois pilotos tiveram
depois que seus fundadores deixaram o barco. Brabham vendeu a equipe para
Bernie Ecclestone, que investiu na mesma, mas priorizava o lucro e também tinha
outras atividades além de ser dono de equipe.
Quando a equipe iniciou a decadência na metade dos anos 80, ele simplesmente viu que tinha mais o que fazer. A equipe foi passando de mão em mão até fechar as portas falida e endividada. Já a McLaren, se profissionalizou, claro, sem antes passar por dificuldades depois que Bruce morreu e outros foram tomando conta da equipe. A profissionalização veio na década de 1980 e hoje, ela ganhou muito mais títulos que a rival e está firme e forte na categoria, brigando por vitórias.
O caso de Emerson Fittipaldi e
Jackie Stewart também foi de uma rivalidade interessante no começo dos anos 70.
Um, era novato na Lotus. Outro, já veterano e com títulos na bagagem. Enquanto
Emerson era primeiro piloto, mas lutava praticamente sozinho dentro da equipe, (condição
esta que herdou depois da morte de Jochen Rindt), Stewart sempre teve um
escudeiro de prontidão, o francês François Cevert, que era encarregado do jogo
de equipe e de fazer Stewart vencer as corridas. Emerson nunca teve esse tipo
de ajuda, seja porque a Lotus nunca fazia jogo de equipe ou porque os
companheiros de equipe eram inferiores demais ao talento da equipe.
James Hunt e Niki Lauda, eram
dois exemplos de discrepância entre eles, que eu vi no cinema. O primeiro, um
playboy assumido, que gostava de festas, fumava, bebia e transava com várias
mulheres. Lauda era mais disciplinado, preocupava-se com o acerto de carros e
respirava automobilismo e conquistou apenas o coração da esposa. Enquanto que
Hunt era querido pelo seu estilo irreverente de ser, o rival parece que não era
bem visto dentro do Paddock entre seus colegas e gente que trabalhou com ele. Mesmo
depois do acidente, mostrou-se um respeito mútuo entre ambos. Mostra-se no
filme um Hunt mais preocupado com badalação e um Lauda visando seu futuro fora
da categoria. James Hunt, morreu pobre, vítima de um ataque cardíaco, aos 45
anos de idade. Lauda hoje, depois de muitas experiências na vida profissional,
hoje é Diretor Técnico da Mercedes.
Nigel Mansell e Nelson Piquet foi
outra rivalidade marcante, principalmente para os brasileiros. Esta, nascida
dentro da equipe Williams, chegou a destacar-se dentro e fora das pistas.
Piquet era um piloto mais técnico e ótimo acertador de carros, tinha o contrato
de primeiro piloto dentro da escuderia. Mansell, de técnica, não tinha quase
nada diria muita gente, mas era um excelente Showman nas pistas e confiava
demais nas informações dos engenheiros de equipe, também tendo, apesar de ser o
segundo, a preferência da equipe. Nigel Mansell ganhou mais corridas que Nelson
Piquet em toda a carreira de ambos (31 x 23), mas o brasileiro possui mais
conquistas de títulos, totalizando 3 contra 1 do rival. Até fora das pistas,
ambos de gênio e temperamento forte, se estranhavam. Piquet se gabava de
colecionar as mais lindas mulheres e ter espalhado filhos a torto e direito,
aproveitando-se para espezinhar o rival, que desde o início de carreira, sempre
foi fiel à sua única esposa e constituiu família. Recentemente, os dois fizeram
uma ação promocional de lançamento de um carro de uma montadora e ambos, pelo
menos num ponto concordaram entre eles: não precisaram bater para conquistar
títulos.
Não muito distante daí, chegamos
à Ayrton Senna vs Alain Prost. Talvez a maior rivalidade de todos os tempos,
diria quem viu ambos correrem. Como vimos, essa rivalidade surgiu quando ambos
dividiram as atenções na McLaren. Colecionaram vitórias, títulos e brigaram
também em bastidores. Senna colecionava poles positions e vitórias. Prost, não
se preocupava em ser mais rápido em treinos, concentrando-se para as corridas.
Tanto é que sempre na maioria das vezes colecionava melhores voltas das
corridas. Além disto, a forma como ambos eram vistos pelo público eram
diferentes. Senna muitas vezes era admirado pelo seu carisma pessoal e buscava
sempre ser profissional dentro e fora das pistas. Prost não nutria muita
simpatia do público. Enquanto um era mais arrojado, o outro, buscava mais a
técnica. Quando Senna morreu, Prost prestou solidariedade à família dele e
também não cansou de falar sobre os momentos que passaram na categoria, que
ficaram na memória de muitos.
Indo mais pra frente, alguns
dizem que Michael Schumacher ganhou todos os seus títulos e suas vitórias porque
não tinha adversários e se beneficiava de contratos excelentes dentro das
escuderias que passava, mas pelo menos, na minha opinião, dois pilotos bateram
de frente contra ele: Damon Hill (de 1994 a 1996) e Mika Hakkinen (de 1998 a
2000). O primeiro não teve vergonha de assumir a responsabilidade dentro da
Williams depois da morte de Senna. E Mika, depois de substituir o próprio Senna
na McLaren, tratou de ganhar confiança em si dentro da escuderia. Ambos
brigaram contra Schumacher com suas armas, mas cometiam muitos erros que
comprometiam as suas imagens e passou-se a impressão de que os dois eram
pilotos falíveis, com pouco cérebro, e que quando foram campeões, só o
conseguiram porque seus carros eram melhores que os que Schumacher guiava,
contrastando com a imagem do alemão, de buscar e sentir a perfeição. Mas, pra
mim, ambos foram dores de cabeça terríveis para o alemão. Damon Hill foi
campeão em 1996, aproveitando-se do fato de Schumacher estar se adaptando à
Ferrari, mas poderia ter sido campeão em 1994 não fosse a manobra de Schumacher
que o tirou da corrida. Mika Hakkinen, tinha como motivação, ganhar 3 títulos
seguidos. Conseguiu só 2 (1998 e 1999), mas foi um rival à altura para o alemão
na minha opinião. Damon Hill muitas vezes brigava com Michael Schumacher porque
não aceitava a condição de ser ofuscado por ele. Já Hakkinen sempre pregou o
respeito a seu adversário.
Hoje, as rivalidades mais
recentes estão entre Fernando Alonso e Sebastian Vettel. Por um tempo, Kimi
Raikonnen e Lewis Hamilton incomodaram o espanhol, mas foi Vettel quem se
lançou contra ele principalmente nas últimas temporadas. Fernando Alonso tinha
um mega pacote de patrocinadores espanhóis e também o apoio de um empresário de
corridas, o Flávio Briatore, que dispensa apresentações. Já Sebastian Vettel
não estaria na Fórmula 1 se não tivesse o apoio da Red Bull desde as categorias
de base até o programa de Novos Talentos da fábrica de energéticos austríaca.
Ambos estrearam bastante jovens na Fórmula 1, com 19 anos cada e também ganharam
seu primeiro GP bastante novos. Mas Vettel é o mais jovem campeão e também dos
dois o primeiro a se sagrar tricampeão. Alonso costuma atrair as polêmicas para
si como o caso de espionagem da McLaren e o Cingapuragate de 2008, causando
bastante antipatia por fãs rivais. Já Vettel sempre carregou a imagem de bom
moço, mesmo quando precisou sacanear Mark Webber, sua imagem não mudou
bastante. Vettel é querido por muita gente, coisa que Alonso não é. Mas ambos
têm suas equipes para si e muita gente sonha com uma dupla entre ambos, seja na
Ferrari, ou seja na Red Bull, mas ambos já vetaram o outro dentro das suas
escuderias.
Por fim, é isto. Se as rivalidades
de antes e de hoje eram saudáveis ou beiravam a inimizade, não importa muito.
Mas a gente percebe como rivais tão distintos em muitos casos, acabam tento
tanto ou nada ao mesmo tempo em comum. E é isso que os torcedores gostam de discutir
e torcer, seja ele respeitado ou não. É isso que enriquece as histórias da
categoria.