sábado, 22 de março de 2014

Dois exemplos, duas atitudes, dois destinos



Bom, gente. Hoje resolvi falar, depois de ter assistido ao filme RUSH e ter observado algumas coisas, veio uma coisa na minha mente... São épocas diferentes, mas situações parecidas no tempo, e que aqui eu descobri o que deu essas atitudes... mais precisamente com a Ferrari e a Lotus.

Primeiro caso, a Ferrari. Ano: 1974. A equipe de Maranello estava enfrentando uma crise técnica, onde naquele ano estava completando uma década de seca de títulos. Eis que houve uma reestruturação na equipe e eles chamam para um teste um piloto jovem e promissor chamado Niki Lauda, para ser o segundo piloto da equipe, que tinha entrado na BRM no ano anterior comprando a sua vaga e feito algumas boas atuações.

No primeiro teste com o novo carro da Ferrari naquele princípio de ano, ele andou, baixou o pé e no final, perguntaram o que ele achou do carro. Niki, categoricamente, reclamou e acabou dando a sua sentença: “O carro é um LIXO!!!!”. Pra que, né???? E isso ele teve a coragem de declarar na cara do Comendador Enzo Ferrari, o dono da equipe, que estava ali presente em Maranello acompanhando os testes...



A sorte de Lauda é que naquele tempo não existia a Internet, senão, essa declaração cairia como uma bomba entre os internautas tifosi que iriam ficar revoltadíssimos com isso. Afinal, não se xinga uma Ferrari na cultura deles. E ele o fez. A declaração dele foi passível de demissão. Mas, ao invés disto, a equipe conversou com ele, ele explicou e foi dando seu diagnóstico sobre o que poderia ser melhorado...

A temporada começou e logo, depois de muitos acertos, a Ferrari foi melhorando e progredindo... a recompensa no final: o título de 1975 com o próprio Niki Lauda e de lambuja o campeonato de Construtores, fazendo assim encerrar um jejum incômodo na época...

Segundo caso, a Lotus. Ano: 1988. A equipe de Norkolf também estava enfrentando uma crise técnica, completando uma década de seca de títulos. Depois de ter perdido Ayrton Senna para a rival McLaren, a equipe abre os cofres e contrata a peso de ouro o então tri-campeão e ganhador do título de 1987, o brasileiro Nelson Piquet, para ser o líder da equipe e consequentemente o primeiro piloto. A esperança é de que Piquet encerraria esse incômodo jejum...

No primeiro teste com o novo carro da Lotus naquele princípio de ano, ele andou, baixou o pé e no final, perguntaram a ele sobre a impressão que tinha... Conhecido por não ter papas na língua, surpreendentemente, ele não quis polemizar e classificou o Lotus: “O carro é BOM!!!!”. Pois bem... mesmo assim, ele sabia que iria ter muito trabalho, mas preferiu uma atitude de cautela com relação ao carro e resolveu apontar defeitos “aos poucos”, à medida que o campeonato fosse desenrolando...

A temporada de 1988 começou e a equipe não conseguiu ser rápida... com o tempo, os pontos foram minguando e a equipe foi ficando para trás... como consequência, a Lotus perdeu nos construtores para equipes como Benetton e Arrows e foi cada vez mais se afundando... os anos foram passando. Piquet pulou fora da equipe e a Lotus foi iniciando uma decadência que não teve mais fim...
Agora eu fico aqui pensando: coincidiu nesses casos o fato das equipes terem enfrentado secas de títulos e acomodação por causa de resultados fracos. No caso de Niki Lauda, um novato, usou da sua petulância e arrogância necessárias para fazer a equipe enxergar o que estava de errado na equipe. Não tinha moral nenhuma na época para opinar sobre a política da equipe, mas o fez. Enfrentou de cara o problema e os resultados vieram. A equipe cresceu desde então saindo dos blocos intermediários para ser novamente equipe de ponta. Claro, depois que ele saiu, caiu de novo a equipe numa nova crise técnica, mas se reergueu depois de muito trabalho. Hoje a equipe Ferrari é uma referência na Fórmula 1 e orgulho para seus fãs do mundo inteiro. A equipe venceu praticamente um quarto das corridas que disputou e hoje é a maior colecionadora de triunfos na categoria.



No caso de Nelson Piquet, ele já era um veterano. Poderia muito bem usar da sua experiência e petulância necessárias para trazer a equipe Lotus de volta às conquistas. Mas não o fez. Ao invés disto, preferiu adotar uma política de que “sou amiguinho de todo o mundo” e achar tudo lindo e maravilhoso. Tinha toda a moral do mundo na época para opinar sobre a política da equipe, mas não o fez... preferiu se contentar em dirigir para a equipe, pois ela estava lhe pagando um excelente salário e depois mostrar-se arrependido de ter fechado com a Lotus, metendo o pau em quem deixou a equipe nesse nível... Depois que ele saiu, a equipe decaiu, perdeu patrocinadores e foi caindo cada vez mais o nível técnicos dos pilotos que eram contratados e os carros que construíam. A Lotus fechou as portas no fim de 1994 e depois de 16 anos, voltou à Fórmula 1 meio que timidamente, para também aventurar-se em outras categorias. Afundou na Indy, no WEC e a Lotus na Fórmula 1 hoje puxa o pelotão do intermediário para trás, arrastando-se no grid...

Apesar de tudo isso, o povo brasileiro, ou melhor, o torcedor brasileiro mais especificamente, resolve guardar mais com carinho a Lotus do que a Ferrari... e eles fazem as comparações: foi na Lotus que o brasileiro aprendeu a amar automobilismo, pois foi lá que Emerson Fittipaldi ganhou pela primeira vez o título da Fórmula 1, foi lá que Ayrton Senna conseguiu suas primeiras vitórias na categoria e foi lá na Lotus que Nelson Piquet desfilou depois de um tri campeonato, embora não tenha ganhado corridas. E foi com a Lotus que Bruno Senna, o sobrinho, guiou também... a Ferrari não teve nenhum dos três campeões mundiais na equipe, e colocou na equipe, Rubens Barrichello e Felipe Massa, que só conseguiram vices campeonatos, Barrichello, por causa do fato de Michael Schumacher ser o primeiro piloto e o Felipe Massa que teve aquele momento de “quase” em 2008, perdendo o título faltando três curvas para acabar a corrida. Ou seja, na Lotus, pilotaram campeões do mundo. Na Ferrari, “capachos” de Michael Schumacher e Fernando Alonso, como os críticos chamam Barrichello e Massa.
Fora também que a Lotus sempre foi mais “simpática” que a Ferrari em muita coisa. Declaram os fãs: a Lotus nunca fez jogo de equipe, a Ferrari sempre fez... a FIA sempre beneficia a Ferrari, a Lotus não... a Lotus tinha a pintura John Player Special, a Ferrari não... Teve gente que chegou a declarar que os pilotos que a Lotus atual detinham eram muito melhores do que os da Ferrari... A Lotus teve Jim Clark, Graham Hill, Emerson Fittipaldi, Ronnie Peterson, Élio de Ângelis, Ayrton Senna, Nelson Piquet e outros não tão bons assim como Satoru Nakajima, Alex Zanardi, Pastor Maldonado... a Ferrari, ficou com Niki Lauda, Clay Regazzoni, Gilles Villeneuve, Michele Alboreto, Jean Alesi, Gerhard Berger, Michael Schumacher, Eddie Irvine, Rubens Barrichello, Fernando Alonso, Felipe Massa,  entre outros...  e teve também pilotos que guiaram para ambas como Jacky Ickx, Mario Andretti, Carlos Reutemann, Nigel Mansell e Kimi Raikonnen...

Essa rivalidade Lotus x Ferrari envolve também Inglaterra e Itália, países que dominaram muito na categoria durante muitos anos. Alguns chegam a fazer uma análise curiosa, principalmente no Brasil... hoje, essa Lotus que está aí, por incrível que pareça, mesmo na situação que está, só por causa da cor preta saudosista, tem mais gente que deseja “o melhor para a equipe”, que ela “chegue logo ao caminho das vitórias”... já a Ferrari, eles querem que afunde o mais rápido possível... é como se a Lotus fosse o São Paulo, querido pela multidão porque conseguiu muitos títulos, e a Ferrari, o Corinthians, odiado pelos torcedores por causa da sua tradição e por métodos que os anti consideram questionáveis. Mas seja como for, essa é uma rivalidade sadia entre eles que até bom pois desperta as paixões diversas. Com isso, quem só ganha é o torcedor, que sempre espera que possa mudar as coisas. Agora é aguardar e ver o que desenrola daqui pra frente nos próximos capítulos...