sábado, 30 de abril de 2016

Isto é Indianápolis

Finalmente estamos em maio. Este é o mês das mães, das noivas, do trabalhador etc. E no automobilismo, esse mês é lembrado pelo maior evento mundial da modalidade: as 500 milhas de Indianápolis.



O que existe de especial nessa corrida? Simples... São mais de 500 mil torcedores que comparecem no último domingo de maio para verem 33 pilotos e seus carros, tratando-os como heróis, lutando pela glória máxima de cruzar em primeiro lugar ao fim de 200 voltas e pouco mais de 800 Km (500 milhas x 1,609 = 804,5 Km), depois de mais de três horas de corrida e levar o belíssimo troféu "Borg & Warner", para ter seu rosto eternamente estampado nele.

Só para se ter uma idéia da importância desse evento, pilotos de todos os cantos do mundo sonham com um lugar no grid, como se estivessem em uma peregrinação de um mês inteiro à procura do Santo Graal nas Colinas de Golan. Mas aqui, as Colinas de Golan não ficam na Palestina ocupada, e sim, no estado de Indiana, nos Estados Unidos, e o Santo Graal é o troféu, onde o cálice é a garrafa de leite que o piloto bebe para saborear o gosto da vitória nas 500 milhas.



Essa busca, porém, já foi muito mais frenética do que é atualmente, devido a algumas mudanças de regulamento que se revelaram catastróficas nos últimos anos. Só para se ter uma idéia, na edição deste ano, até a data de hoje, a organização da prova conseguiu, com muito esforço, uma lista com 35 pilotos que se inscreveram para disputar a prova. Muito pouco, perto de edições onde tivemos mais de 40 pilotos brigando por 33 vagas no grid, numa corrida que tivemos muitos pilotos que inclusive chegaram a correr na Fórmula 1, vieram para disputar esta grandiosa prova.



A corrida existe desde 1911 (somente interrompida em alguns anos devido às Grandes Guerras Mundiais), mas o Brasil só foi participar da festa em 1984, quando Emerson Fittipaldi alinhou seu March Cosworth número 47 na vigésima terceira posição do grid, um carro branco com detalhes roxo e rosa. No mesmo ano, uma Boy Band de cinco adolescentes de Porto Rico que estava arrebentando nas paradas norte-americanas, mas ainda desconhecida do público brasileiro, criou uma música chamada "Indianápolis", ressaltando o clima e a festa que é a corrida. O nome da banda? Menudos.

Depois de Emmo, vieram outros brasileiros, mas só em 1989, naquela vitória inesquecível de Emerson, numa disputa final acirrada com Al Unser Jr. que terminou com o adversário parando no muro, é que o Brasil finalmente se renderia ao charme da corrida. Outros pilotos de nacionalidades diferentes vieram e passaram a duelar contra os heróis locais. Os norte-americanos passaram a acostumar com nomes diferentes. Só o Brasil teve mais seis vitórias depois dessa conquista de Emerson.




Os preparativos para a corrida seguem o mesmo ritual: a corrida acontece na véspera do Feriado do Memorial Day (este feriado cai na última segunda-feira do mês de Maio e é o dia de lembrar os heróis das guerras que os norte-americanos participaram), mas antes, os pilotos são apresentados para o público num desfile em carros abertos na véspera da corrida nas ruas da cidade, depois no dia da corrida, uma grande festa familiar, a presença das forças armadas, e os cerimoniais, onde as atrações são a música Goin´ back to Indiana (música de autoria dos Jackson Five, que é a marca do Estado de Indiana) cantada e interpretada por uma celebridade local, o hino norte-americano  e por fim, a ordem de largada, onde a dona do Indianápolis Motor Speedway diz simplesmente: "Senhoras e Senhores... liguem seus motores..." e começa assim os primeiros roncos de motor, onde os carros são ligados e começam assim a busca incessante pela vitória na corrida.



Mas o que leva o piloto e o público a idolatrar uma corrida que só acontece uma vez por ano? As populações locais, que faturam com lembranças, cervejas, aluguéis de suas casas. Atrações diversas, como mulheres exibindo seus seios para os marmanjos e intercâmbios de torcedores de diversas nacionalidades. Os pilotos, talvez não tão badalados aqui como os pilotos da Fórmula 1, lá eles são verdadeiros reis, cujos carros são ornamentados como antigas carruagens romanas. Talvez também sejam os acidentes espetaculares, ou as disputas ferrenhas de posições, onde costumam-se brigar milímetro por milímetro por cada posição na corrida com os carros muitas vezes raspando o muro do circuito... Mas por que então esses pilotos não são tão badalados fora dos Estados Unidos? O piloto norte-americano Buddy Lazier, ao vencer a edição de 1996, tentou explicar: "Indianápolis é um local único. Não precisa de astros!". Talvez porque a corrida já fabrique seus próprios astros.

Mas uma coisa é certeza: não importa o vencedor, o público sempre repetirá esse ciclo, lotando o autódromo para ver 33 pilotos e suas respectivas máquinas acelerando para chegar à glória máxima de vencer a maratona com mais de três horas de corrida. Porque isto é Indianápolis.

Vencedores das últimas edições das 500 milhas de Indianápolis:
Ano - Piloto (Nacionalidade/Chassis - Motor/Equipe/Número do carro)

1988 - Rick Mears (EUA/Penske-Chevrolet/Equipe Penske/5)
1989 - Emerson Fittipaldi (BRA/Penske-Chevrolet/Equipe Patrick/20)
1990 - Arie Luyendyk (HOL/Lola-Chevrolet/Equipe Shierson/30)
1991 - Rick Mears (EUA/Penske-Chevrolet/Equipe Penske/3)
1992 - Al Unser Jr (EUA/Galmer-Chevrolet/Equipe Galles/3)
1993 - Emerson Fittipaldi (BRA/Penske-Chevrolet/Equipe Penske/4)
1994 - Al Unser Jr (EUA/Penske-Mercedes Benz/Equipe Penske/31)
1995 - Jacques Villeneuve (CAN/Reynard-Ford Cosworth/Equipe Green/27)
1996 - Buddy Lazier (EUA/Reynard-Ford Cosworth/Equipe Hemelgarn/91)
1997 - Arie Luyendyk (HOL/G Force-Aurora/Equipe Treadway/5)
1998 - Eddie Cheever (EUA/Dallara-Aurora/Equipe Cheever/51)
1999 - Kenny Brack (SUE/Dallara-Aurora/Equipe Foyt/14)
2000 - Juan Pablo Montoya (COL/G Force-Oldsmobile/Equipe Ganassi/9)
2001 - Hélio Castroneves (BRA/Dallara-Oldsmobile/Equipe Penske/68)
2002 - Hélio Castroneves (BRA/Dallara-Chevrolet/Equipe Penske/3)
2003 - Gil de Ferran (BRA/Panoz G Force-Toyota/Equipe Penske/6)
2004 - Buddy Rice (EUA/Panoz G Force-Honda/Equipe Rahal Lettermann/15)
2005 - Dan Wheldon (ING/Dallara-Honda/Equipe Andretti Green/26)
2006 - Sam Hornish Jr. (EUA/Dallara-Honda/Equipe Penske/6)
2007 - Dario Franchitti (ESC/Dallara-Honda/Equipe Andretti Green/27)
2008 - Scott Dixon (NZE/Dallara-Honda/Equipe Ganassi/9)
2009 - Hélio Castroneves (BRA/Dallara-Honda/Equipe Penske/3)
2010 - Dario Franchitti (ESC/Dallara-Honda/Equipe Ganassi/10)
2011 - Dan Wheldon (ING/Dallara-Honda/Equipe Bryan Herta/98)
2012 - Dario Franchitti (ESC/Dallara-Honda/Equipe Ganassi/50)
2013 - Tony Kanaan (BRA/Dallara-Chevrolet/Equipe KV/11)
2014 - Ryan Hunter-Reay (EUA/Dallara-Honda/Equipe Andretti/28)
2015 - Juan Pablo Montoya (COL/Dallara-Chevrolet/Equipe Penske/2)

segunda-feira, 25 de abril de 2016

A soberba da Libertadores e o menosprezo ao Paulistão


 Bom, gente. Estamos chegando a reta final dos campeonatos estaduais e uma questão me veio na cabeça: com a eliminação dos clubes grandes da capital (o trio de Ferro: Corinthians, Palmeiras e São Paulo) do campeonato paulista, premiou também um pouco o menosprezo que se dá a esta competição.

Só para se ter uma idéia, está certo que o Campeonato Paulista não tem mais aquele charme e brilho que tinha até tempos mais recentes, digamos até metade dos anos 1990 pra frente. Quando se falava de Campeonato Paulista, tinha-se a sensação de que o campeonato era levado mais a sério pelos grandes clubes da capital, mas noto que hoje não se leva mais tão a sério, e os torcedores destes times também embarcaram nesta onda.



Lembro que Corinthians e Palmeiras, quando tinham seus longos jejuns de títulos, eles encerraram seus sofrimentos justamente no Campeonato Paulista e estas conquistas foram super valorizadas nas suas épocas de fim de jejum... hoje o São Paulo já completa um jejum que ano que vem vai para 12 anos e ninguém fala nada, ninguém lembra disto...

Mas eu acredito que a culpa, tem um pouco disto, é a Libertadores, principal torneio da América do Sul e que os três times da capital disputam este ano (só o Palmeiras é que já está eliminado desta competição este ano). Pegou-se a idéia que foi comprada pelos dirigentes dos clubes e os torcedores embarcaram nesta onda.

O roteiro, todo ano está acontecendo e se repete quando um destes três é eliminado do Paulista: eles caem fora do campeonato, mas tem a Libertadores para continuar disputando. E o torcedor vai na onda: “o que importa é a Libertadores... paulistinha eu não quero...”, e no final, o clube acaba caindo fora também da Libertadores e os seus torcedores viram motivo de chacota dos maiores rivais...

E tudo isto começou quando o Palmeiras em 1999 ganhou a Libertadores... o Paulo Nunes, para justificar a eliminação do Corinthians daquele torneio, disse assim: “Pois que eles fiquem com o Paulistinha que é isto que eles merecem...”, pois é... uma forma de dizer que o Palmeiras não estava nem aí para o Paulistão. Paulo Nunes acabou pagando depois pela sua arrogância e depois de um tempo vestiu a camisa do Corinthians... para ganhar depois o “Paulistinha” que ele tanto menosprezou nos tempos de Palmeiras... e depois disto, São Paulo e Corinthians caíram nesta onda também:



O São Paulo, como te falei, já tem um jejum mediano e que se está tornando perigoso para o clube em termos de campeonato paulista, mas eles não se importam... todo ano o clube entra na Libertadores e já faz até projeções de uma final entre eles e uma grande potência européia como Bayern Munique ou Barcelona, por exemplo... o Corinthians, depois que ganhou sua Libertadores, também está indo na mesma onda... desde que Paolo Guerrero disse ano passado, que preferia “coisas grandes como a Libertadores”, acabou pagando com a língua, onde especialistas já diziam (e os torcedores caíam nesta comparação)  que o Corinthians “ganharia fácil uma UEFA Champions League com o time que tem”, entre outras coisas mais...

Hoje, quem parece que mais dá valor ao Campeonato Paulista é o Santos... e eles tiveram que encerrar um jejum de 22 anos sem conquistar o campeonato, mas ninguém deu tanta importância assim porque o clube já estava acostumado a ganhar campeonatos brasileiros e disputar a Libertadores com freqüência... o Santos já está na sua oitava final de Paulistão consecutiva, aproveitando um pouco também o fato dos outros times terem a desprezado. Pra se ter uma idéia, antigamente, se falava que “o Campeonato Paulista tinha que dar vaga para a Libertadores”... hoje se você fizer como fez o Mario Gobbi em 2012 depois do jogo contra o Emelec e falar que “Campeonato Paulista é melhor do que Libertadores”, o pessoal fica praticando bullying contra você...



E pra finalizar, um pouco também desta soberba com relação a Libertadores e o menosprezo ao Campeonato Paulista está no fato de que os técnicos de hoje escolhem, com o argumento do planejamento, que campeonatos dar mais importância... nestas horas, eu tenho saudades do São Paulo de Telê Santana... no tempo dele, o clube não escolhia campeonato e entrava pra ganhar em todos eles, desde um simples torneio de verão pré-temporada até um campeonato lá no Japão... e conseguia se dar bem em quase todos. Por isto que ficou na memória do torcedor brasileiro...

São por essas e outras que penso se não estamos valorizando demais um campeonato em detrimento ao outro...